jeudi 13 novembre 2008

Dan Brown e meus demônios

Insônia é um saco... Felizmente temos alguns blogs que fogem do esquema geral e têm autores que falam de outras coisas que suas vidinhas insignificantes (o que não é meu caso).

Então, apos ler o ultimo post do McFly e da Guili no http://caducando.wordpress.com/, resolvi escrever sobre algo mais chato do que eu: literatura.
No Caducando falou-se bastante em Dan Brown. Hum... na verdade esse cara ocupou boa parte da midia planetaria durante algum tempo, a ponto de seus livros adquirirem o status do filme "Titanic": você nao quer ler porque ja ouviu tanto falar que tem a impressão de ja conhecer tudo de cor (obrigado, Italo Calvino). Mas convenhamos; Dan Brown é um monte de coisas boas e ruins:
Ele provou que ainda é possivel se tornar milionario sem escrever livros de auto-ajuda.
Mostrou de forma empirica que nesse mundo perigosamente pratico onde se bombardeia estudantes de literatura e filosofia com a eterna pergunda "o que você vai fazer com isso?"as pessoas ainda podem descobrir um interesse repentino por dados irrelevantes como a quantidade de placas de vidro que compõem a pirâmide do Louvre ou, em um plano mais historico, a "rose ligne".
Finalmente, o cara conseguiu fazer mais de um milhão de pessoas lerem um tijolo de quatrocentas paginas sem chiar.
Isso tudo é digno de respeito. Diria até mais, o cara merece aplausos.
Mas convenhamos que do ponto de vista literario ele é nada mais do que mediocre.
A literatura não envolve somente idéias e informações, mas também a maneira de expô-las. Dan Brown é o primeiro grande romance em que a ação se encadeia com discussões breves e flashbacks literarios que não precisam de nada para serem adaptados a um filme. Releiam o "Da Vinci Code" e vejam por si mesmos: o cara consegue enfiar três dias em quatrocentas paginas, enquanto Flaubert precisou de muito menos para retratar a vida toda de Emma Bovary.
Não é apenas o tamanho da obra e sua brevidade no tempo. Afinal, Life and Opinions of Tristram Shandy também cobre um curto periodo para um volume enorme de palavras, mas Sterne usou um artificio bem mais original que Brown.
O leitor eventual que ainda insistir em seguir minhas linhas deve estar se perguntando "Mas por que tanta raiva no coraçãozinho desse cara?"... Eu explico com um exemplo pratico: Quantas vezes não ouvimos dizer que "o filme é bom, mas o livro é melhor"? é justamente essa a riqueza do livro, que ele seja uma obra de valor literario reconhecido ou um bom thriller! Caramba; o livro tem algo mais que o filme não consegue traduzir. No livro o autor explora o universo interno dos personagens, o uso da linguagem na voz narrativa é a riqueza propria do romance!...
Nos EUA existe ha muito uma modalidade de escrita que consiste em fazer o contrario, transformando filmes famosos em livros. Você pode ler Ghostbusters II e Bradock! Fato aceito, é claro que uma obra escrita baseada em um filme tera uma estrutura diferente da obra literaria pensada desde o inicio como tal. O Da Vinci Code é a primeira obra inicialmente literaria com uma estrutura quase toda visual. Os raros pontos nos quais ha digressão podem ser facilmente adaptados, e se os estudios tivessem um pouco de panache eles teriam adaptado o livro inteiro para o cinema, sem esquecer uma linha sequer!
Para mim acabamos de entrar em uma nova era onde os livros (nao vou ousar dizer "literatura" novamente) se dividirão em três categorias:
Os de uso pratico, onde poderemos encontrar desde manuais de windows até auto-ajuda.
Os romances visuais, que seguirão a linha do Da Vinci Code
A literatura verdadeira, cada vez mais alienada por causa dos proprios literarios, que insistem em se considerar seres intelectualmente superiores em um mundo povoado por cretinos e por isso mesmo se isolam em sua propria esfera.

Tudo isso para chegar à seguite pergunta: Dan Brown deve ser considerado como literatura? é claro que deveria! Ignora-lo seria ignorar o verdadeiro fenômeno de distanciamento do abstrato que orquestra os caminhos da cultura atual. Ele deve ser estudado, sim. Sua estilistica, seus artificios e os termos empregados... enfim, um estudo da semiotica da comunicação do Da Vinci Code poderia ser sobreposto com um estudo da semiotica global do século XXI (nossa, como sou vago no que digo!) e nos ajudar a entender por que, depois de dois mil anos pensando e dechifrando, resolvemos finalmente optar pelo obveo.

mardi 4 novembre 2008

De volta à vida online.

De volta, pois sim.
Poderia até dizer "De volta à vida", ponto final. Foi preciso muito Brasil, muita cerveja e horas de conversa nos quatro cantos do mundo (ok, exagero de vez em quando...), mas estou acordado mais uma vez.
Nem sei se alguém ainda visita esse blog, mas não tem importância. Se aparecerem, estarei aqui pois minha fase de alergia à internet passou. Mas nem por isso vou me tornar um maniaco do online. Foi preciso uma boa sacudida para eu poder ver novamente a importância do olho no olho, de uma conversa com presença fisica. Desde que a rede se tornou um prolongamento do individuo o tempo que se passa na frente do computado substituiu muita coisa - coisa demais ao meu gosto.
Semana que vem chega o Marcão. Preciso ir à biblioteca cuidar do meu texto, acertar as toneladas de coisas para fazer e, se der tempo, ler o Malleus Maleficarum para me divertir.

mercredi 21 mai 2008

mardi 11 mars 2008

Da mão trêmula

Uma libélula é um pedaço de ar. Nos cantos escuros da agua parada, ela voa flutua quase em silêncio. O espelho abaixo permanece estatico, as plantas a ignoram, as flores lhe sorriem. Sem esforço, ela se dissolve na brisa, é a brisa, é o espelho.
Como um pedaço de céu esquecido que se aventurou perto demais da terra.
Mas por que?
Não ha...
Não ha porquês em um libélula, nem diferença, nem fronteiras. Ela mora no vento e vai embora.
Sua unica lembrança
São os relances de seu verde esmeraldino
E sombras de anéis na agua turva.

vendredi 7 mars 2008

Modernismo barato...

Foi ai que
uma Fada______me deu______uma Flor

me deu___________________me deu

uma Flor______me deu______uma Fada
.

dimanche 2 mars 2008

Concerto noturno

Colocando no ar mais um post, so para não perder a mão: essa noite estou com vontade de escrever.
Duas da mãnhã: hora fatidica em que começo a contagem regrassiva para o sono. Tomei meu donormyl efervescente, espero o cansaço e os olhos que ardem. Na cabeceira, Jean de Meun me espera com seus monologos interminaveis sobre o amor racional. Quando me sinto sufocar, pego os loucos de amor com um sorriso cumplice, pequena piscadela para todos os que ainda insistem em deixar de ter medo.
Enquanto la fora dança a noite em seu ballet de estrelas, o mundo parece melhor.
Desliga a têvê, abre a janela para a fada entrar.
Se quiser beber, beba!
Chore, se quiser chorar...
Antes de dormir, pense como é bom enlouquecer nas costas da sanidade, pedalar nos algoritmos, escorregar nas regras da absurda gramatica, perder os laços dos cantos esquecidos amarrados no concreto escuro.
Voar um pouco, mas voar bonito
E mandar uma banana para os ângulos retos.

lundi 25 février 2008

Studio et Morior

Saindo de cara para a Place de la Sorbonne, vire à direita. Desça a rua Victor Cousin até a praça Paul Painlevé. Passe pelo pequeno jardim, se quiser. Pare na frente de Montaigne para uma conversa de frio e bronze filosofico, mas continue seguindo.
Pegue a tortuosa rue de la Harpe, drible os paralelepipedos irregulares e os cheiros de queijos e churrasco grego. Pegue a rue de la Huchette, siga até o fim e você desembocara na rue de la Bûcherie. Numero 37.
Pronto.
A porta se fecha sobre o mundo. E te cospe no espectro dos universos à espera.
Todos os dias.
Sempre que posso e até fechar, fico la.
No andar de cima, cadeiras e colchões me esperam, felizem em me ver. Todos meus amigos me olham das estantes.
Companheiros de copo,
Colegas de choro,
Amigos de estrelas que dividem comigo a silueta da Notre-Dame recortada na janela.
Charlotte Higgins me fala de amor em latim, Terry Pratchett solta seus rolos de fumaça sorrindo por antecipação das piadas que vamos dividir. Will Shakespeare é grande, estatelado por todos os cômodos, o rosto dividido entre riso e chôro. Em algum lugar Michael Crichton conta suas historias incriveis, mas Tolstoi so pensa em ir embora, fugir, criança crescida.
Converso com cada um, nunca tanto quanto gostaria. Me apaixono, fico de mal, rio e abraço.
Quando a necessidade chama, abro a mala e o sotaque medieval de Jean de Meun se destaca entre os demais.
De repente, é hora de fechar. Vou embora, me perguntando sobre as sombras que às vezes passavam entre meus amigos e eu. Parecia que falavam algo,
Como se houvesse mundo fora do papel.
Coisa estranha...

mercredi 20 février 2008

Paris, Paris...à vélo.

Paris tem o Vélib'. Para quem não sabe, é um sistema de bicicletas publicas que ficam ancoradas em pirulitos eletrônicos. Quem quer usa-las pode fazer uma assinatura anual ou pegar um ticket de um dia ou uma semana. é bom, barato e tira a gente dos buracos fedorentos do metrô parisiense.
A Fada, ciclista assumida e militante, afirma que o vélibista (nome que encontrou para os usuarios do vélib') não passa de um usuario do metrô que de vez em quando resolve pedalar um pouco para aproveitar do sol. Perdi a conta dos cafés que banharam nossas discussões acaloradas que vão buscar as raizes da cultura francesa onde dois individuos que partilham o prazer da bicicleta preferem quebrar o pau vendo qual é mais ciclista ao invés de abraçar a cumplicidade das preferências comuns. Mas fazer o que?
Sou um velibista profissional e assumo plenamente. Quando voltei para Paris com o coração nos calcanhares decidi que andar de bicicleta ia me fazer bem, e fez. Perdi cinco quilos, ganhei fôlego e de quebra conheci belos cantos que so se pode descobrir perdendo-se.
O velibista "profissional" é aquele que renuncia definitivamente à inércia do metrô. Faça chuva ou faça sol, ele esta sobre sua bicicleta, enchendo o saco dos taxistas no corredor de ônibus, passando os farois vermelhos e ameaçando os pedestres babacas que têm essa estranha mania de atravessar na faixa!
O velibista apalpa a bicicleta antes de retira-la, sacode, pedala no vazio... Ele conhece todos os macetes para pegar uma que seja perfeita. Estamos atualmente tentando adaptar esse maravilhoso conhecimento preventivo à escolha de uma mulher, mas resultados recentes mostram que apalpar, sacudir e pedalar no vazio não funciona com o gênero feminino (pelo menos não no começo do primeiro encontro).
Melhor mesmo são os trajetos, mas desses falarei depois.

lundi 18 février 2008

Fée de moutarde

Chegou do nada, falando "oi"!
Em sua bicicleta preta envenenada de campainha e cesta de vime, ela desenha as ruas de Paris.
Quando de salto alto, tenho que olhar para cima para encontrar seus olhos. é melhor, pois tenho que passar pelo seu sorriso e o caminho se torna mais belo.
Quando em casa, ela escreve dos pães que faz e me conta dos seus pais em Dijon, de caminhadas na floresta e outras tantas alegrias.
Geniosa, ela discute até te convencer de seu ponto de vista ou o contrario... e sai emburrada. Mas isso ainda não vi.
De repente me conta de livros.
E some na multidão deixando um rastro de fagulhas e polen de mostarda.
Sobra um "dring dring" flutuando na esquina
E um pequeno sorriso no canto da minha boca.

mardi 15 janvier 2008

Tenho ainda um trabalho a devolver, para o qual ja escrevi cinco paginas. Falta inspiração e vontade para mais cinco.
Odeio dias que choram.

vendredi 11 janvier 2008

Nuit Blanche

Mais uma noite em claro...
Por volta das duas, não vale mais a pena tomar comprimido. Não quando se deve acordar às sete. Não quando se sabe que faltar no seminario significa perder o semestre.
Enquanto a noite vai passando, a televisão cospe seus programas sem graça, os livros se tornam perigosos e queremos sacudir o mundo para ver cairem os prédios.
Quando a angustia atinge seu apice, por volta das cinco e meia, parimos textos febris. Depois, o cansaço. Levantamos os olhos da folha ou da tela, e vemos la fora a vida que começa a renascer.
A verdadeira felicidade é um sono sem sonhos.

Everlong

"And I wonder
When I sing along with you
If everything could ever feel this real forever
If anything could ever be this good again

The only thing I'll ever ask of you
You've got to promise not to stop when I say when... "
Foo Fighters - Everlong

« Pois então diga… »
Foi o que ele ouviu antes de perder apoio no vazio do silêncio. De repente o mundo emudeceu. Não era o vento gelado que varria a imensa esplanada da biblioteca François Mitterrand. Não era o cinza-chumbo do céu nem os prédios imponentes que os cercavam como quatro monstruosos livros abertos em suas paginas de concreto e vidro. Era ela.
E mais nada.
Não saberia dizer como chegara até ali, nem por que entrelaçamento das malhas de decisões e destinos ela estava la, parada na sua frente.
O sangue subiu-lhe à face. Ele precisava falar, queria falar, mas a barreira de repente se tornara grande demais. Desaparecidas as grades de toda eloquência, as palavras hesitavam diante da liberdade. Era tão mais facil ter que se domar e viver com a doce frustração do segredo, as pequenas esperanças e minúsculas vitórias do querer, do ver e não tocar...
E de repente, por algum motivo que naquele momento lhe escapava, a fronteira havia sido cruzada. Naquele momento as lembranças desfizeram a malha dos dias passados amontoados no ângulo morto da vida para rever todas as pequenas coisas que fizeram-nos convergir para aquele instante que dissolvera o mundo. Ali estava ela, olhando-o, esperando.
“Pois então diga...”
Tentou, em vão, ler algo no seu rosto. Os profundos olhos castanhos efervesciam e, atrás das pequenas constelações que ele às vezes contava, reluzia no escuro a inteligência como uma navalha, pronta a ser desdobrada. Sem sorrir, sem nervosismo, com a neutralidade dos que têm a segurança de saber quem são, ela esperava suas palavras. Ele queria rir, contar uma piada ou falar do tempo, mas era tarde demais. Pedira toda a sua atenção, e seu desejo havia sido atendido. Não havia para onde correr.
De repente, o chão sob seus pés.
O Vento.
A Vida.
Precisava falar. Que se explodam as conseqüências.
“Não tenho por onde começar, nem por onde terminar. Estou ainda perdido em um mundo que não conheço, fora por alguns pequenos, insignificantes detalhes.
Se te pedi para vir até aqui, foi para te dizer que gosto desse mundo que descobri. Que gosto de me perder nele, e que à medida que comecei a conhecê-lo, a cada dia desenterro um novo tesouro, vejo novos horizontes de uma beleza inesperada.
Se te pedi para vir até aqui, é porque quero morar em um canto da sua tristeza para saber se, um dia, você me abrirá uma porta para a felicidade... porque prefiro partilhar o peso da sua vida a mastigar o vazio da minha.
Acredite: faz ja algum tempo que minha consciência é grande demais apenas para mim. Não quero que você cure minha vida... apenas estar nela e, se quiser, me deixar entrar um pouco na sua. Mas você é a estrela cadente e eu, um mero caçador de borboletas.
Mesmo assim, não consigo deixar de sonhar.
Esse mundo tem realidade demais, e sei que ela esta contra mim.
Mas se te chamei até aqui, se tive coragem de falar até agora, é para te dizer apenas isso:
Te quero para um sonho. A realidade que apareça quando puder”.
Deixou o vento levar para longe as ultimas palavras, enfiou a mão no bolso à procura de um cigarro que acendeu e deixou queimando no canto da boca, baixou a venda sobre os olhos e atou os punhos atrás das costas. Tragou longamente, esperando a ordem de “fogo”, e soltou a fumaça.
Que subiu
Como um anjo no céu de Paris.

vendredi 4 janvier 2008

A Resposta

Chegou inesperada, é verdade. Ou talvez não: como parte do mundo de compromissos insignificantes, era apenas uma devoluçao educade de um cumprimento.
Ainda assim, ele engasgou ao vê-la brilhar na tela, ali mesmo onde, alguns dias mais cedo, havia destilado o que lhe restava de estrelas cadentes para condensar uma frase simples. "What goes around, comes around"... ditado incontestavel para a raiva e a vingança, mas nunca para o amor.
Sim: amor. Porque era isso, e não outra coisa. Ele não ousava se repetir a breve e magica palavra. Quais eram, afinal, as garantias? Que tipo de amor, que grau de gostar traduzia seu sentimento? Como ousar afirmar estar amando do alto de seus relativos poucos anos e na época em que vivia?
Não: outra coisa. Algo mais, um engano, uma miragem cruel. Amar é mais dificil que isso. é mais que uma imagem, mais que uma brisa empurrando os passos um apos o outro rumo a Ela. Amar é muito, mas não esse estranho estar que enchia de suspiros o ar parado do quarto: Amar não é suspirar:
" é estar distraido."... talvez,
"é morrer cada dia um pouco", diria outro.
Além das verdades de outrém, abaixo dos dogmas sussurrados pelos grandes, ele sentia naquele fim de noite seu proprio veredito se condensar em uma pequena frase anodina, brilhante, singela, indiferente:

"obrigada pelos seus belos votos de ano novo, os quais eu retorno: que você tenha um 2008 cheio de pequenas e grandes alegrias"

Lendo e relendo, ele confirmava suas perguntas, desestabilizava suas respostas. Seu olhar se embaralhava em um redemoinho de desejos e murmurios, musica de madrugada, como as gotas de chuva iluminadas por uma fraçao de segundo no facho de luz da luminaria.
E como a chuva silenciosa que banhava a madrugada parisiense, ele se deixou cair, lentamente, na ilha flutuante dos apaixonados que fogem o dia, sonhando em um pedaço de nada, como haveria de ser a sua escolha no espectro infinito de tudo o que declina o amor.
Amar é criar. Pouco importa o real.

mercredi 2 janvier 2008

A Mensagem.

"So para te desejar um feliz ano novo e um 2008 polvilhado de sorrisos..."

Ele hesitava. Apertar "envio" e se abaixar, esperar, ousar dar mais esse passo de formiga, outro dos infinitos passos infinitesimais que devemos vencer sempre que, por alguma razão que nos escapa, decidimos correr atras de um sonho e avançamos por esses caminhos de vitorias quânticas que apenas nos enxergamos.
"Envio".
Foi. Foi pra conta. Paralelamente, havia o perigo de "foi pro saco" que decorreria fatalmente de uma resposta "vai à merda". Mas era assim. Ele não era mais uma criança, tinha passado por isso muitas vezes antes e sabia que, entre o extremos da rejeição violenta e da confissão apaixonada, as grandes probabilidades se concentravam no centro da gentileza indiferente. Era a rotina conhecida: "Apaixona-te, e correras por nada. Fica no teu canto, e o inesperado cai no colo". Era cruel, mas real. Ailas, que realidade não era cruel? Desde sempre, todos os elementos que compunham a vida haviam sido apresentados como provações terrives, ilustradas por exemplos heroicos de abnegação dos que triunfam: Aqueles que estudaram loucamente e passaram concursos reputados, o trabalho e a recompensa da dedicação total... de repente a vida se tornara uma seqüência de problemas a serem resolvidos que terminaria apenas com a morte, solução final para tudo. Pelo menos para ele. Caberia aos que ficam a responsabilidade de carregar a tocha para frente, continuar a corrente humana que se estende entre os séculos.
Fixando a tela onde piscava "mensagem enviada", ele se perguntava pela milésima vez se deveria mesmo ter quebrado seu silêncio. Não que a mensagem em si fosse uma declaração louca de amor incondicional. Para quaisquer olhos outros que os seus aquele recado de ano novo seria inocente, com sua poesia barata e gratuita. Um pouco desajeitado, um pouco ridiculo... uma imagem em linhas de quem o havia escrito. Seus temores não se concentravam no conteudo, mas em todo o processo, na imaginação que compôs as frases, nos dedos que saltaram de uma tecla a outra para coloca-la na tela, e no toque final que a enviara. Ele sabia que todas essas pequenas etapas eram grãos de vento formando um sopro implacavel que o empurraria até a desilusão final, o fim do sonho.
Por que aceitara correr esse risco, o risco quase certo de receber de fora a certeza de que nenhuma quimera poderia tocar o real, que o mundo seria amanhã como é hoje e como foi ontem, afogado na mesma solidão do mar de rostos indiferentes, da beleza sem amor, do interesse sem amizade?
Maldizendo sua incapacidade de se contentar do sonho, de sorrir para as bolhas de sabão que sua alma soprava nos momentos de tristeza, ele saiu da frente da tela:
Era triste demais.

Balzac e a costureirinha Chinesa

Comprei três exemplares na minha vida: os dois primeiros em inglês, no Brasil, para presente. Todavia ontem foi a gota d'agua. Fui até "l'Arbre à Lettres", uma das minhas livraris preferidas onde trabalha a Céline, uma amiga. Cinco euros, e la fui eu de sacolinha a tira-colo. Acabei o livro hoje de manhã e recomendo vivamente.