mercredi 2 janvier 2008

A Mensagem.

"So para te desejar um feliz ano novo e um 2008 polvilhado de sorrisos..."

Ele hesitava. Apertar "envio" e se abaixar, esperar, ousar dar mais esse passo de formiga, outro dos infinitos passos infinitesimais que devemos vencer sempre que, por alguma razão que nos escapa, decidimos correr atras de um sonho e avançamos por esses caminhos de vitorias quânticas que apenas nos enxergamos.
"Envio".
Foi. Foi pra conta. Paralelamente, havia o perigo de "foi pro saco" que decorreria fatalmente de uma resposta "vai à merda". Mas era assim. Ele não era mais uma criança, tinha passado por isso muitas vezes antes e sabia que, entre o extremos da rejeição violenta e da confissão apaixonada, as grandes probabilidades se concentravam no centro da gentileza indiferente. Era a rotina conhecida: "Apaixona-te, e correras por nada. Fica no teu canto, e o inesperado cai no colo". Era cruel, mas real. Ailas, que realidade não era cruel? Desde sempre, todos os elementos que compunham a vida haviam sido apresentados como provações terrives, ilustradas por exemplos heroicos de abnegação dos que triunfam: Aqueles que estudaram loucamente e passaram concursos reputados, o trabalho e a recompensa da dedicação total... de repente a vida se tornara uma seqüência de problemas a serem resolvidos que terminaria apenas com a morte, solução final para tudo. Pelo menos para ele. Caberia aos que ficam a responsabilidade de carregar a tocha para frente, continuar a corrente humana que se estende entre os séculos.
Fixando a tela onde piscava "mensagem enviada", ele se perguntava pela milésima vez se deveria mesmo ter quebrado seu silêncio. Não que a mensagem em si fosse uma declaração louca de amor incondicional. Para quaisquer olhos outros que os seus aquele recado de ano novo seria inocente, com sua poesia barata e gratuita. Um pouco desajeitado, um pouco ridiculo... uma imagem em linhas de quem o havia escrito. Seus temores não se concentravam no conteudo, mas em todo o processo, na imaginação que compôs as frases, nos dedos que saltaram de uma tecla a outra para coloca-la na tela, e no toque final que a enviara. Ele sabia que todas essas pequenas etapas eram grãos de vento formando um sopro implacavel que o empurraria até a desilusão final, o fim do sonho.
Por que aceitara correr esse risco, o risco quase certo de receber de fora a certeza de que nenhuma quimera poderia tocar o real, que o mundo seria amanhã como é hoje e como foi ontem, afogado na mesma solidão do mar de rostos indiferentes, da beleza sem amor, do interesse sem amizade?
Maldizendo sua incapacidade de se contentar do sonho, de sorrir para as bolhas de sabão que sua alma soprava nos momentos de tristeza, ele saiu da frente da tela:
Era triste demais.

2 commentaires:

Thaissa a dit…

“O tempo não para, no entanto ele nunca envelhece”. O tempo deve curar qualquer tristeza, qualquer dúvida da alma. O tempo cicatriza as feridas, cura até a alma mais romântica e perdidamente apaixonada. O tempo deve mostrar, para aqueles que não enxergam, que o orgulho às vezes é importante. E também que a decisão de outro a respeito de você mesmo é um direito do outro. O botão de enviar apertado: não tem mais retorno. Mas a felicidade sim! A dor deve ser sentida, mas o sofrimento é escolha própria. Lágrimas podem escorrer-lhe o rosto, mas elas devem ser enxugadas de cabeça erguida. Não devemos suplicar pela piedade própria. O amor deve vir sem cobranças, naturalmente. Mas às vezes ele é como ondas no mar. Ele vem, mas depois vai embora e ficamos com metade do corpo para fora. Isso porque mergulhamos de cabeça quando a onda nos alcançou, e esperávamos ficar mergulhados nessa sensação maravilhosa de êxtase do romance começado, da cumplicidade alcançada e da vida compartilhada. Mas a maré pode levar isso embora e ficarmos com o sal do que foi em nosso corpo. Não desanime. Apertado o botão, a resposta pode não chegar até você do jeito que você espera, ou talvez o coração gelado do ente amado se negue a produzir qualquer batimento em retribuição de frases feitas, na tentativa de uma reaproximação. Essas respostas podem parecer duras, frias, mas na verdade podem ser o necessário para se saber ir para frente ao invés de ir para trás. Lute com os dedos que insistem em enviar suplícios de reaproximação a todo custo. Guarde as palavras que tens para quem as deseja ouvir. Não espere o amor dos outros pois nem sempre recebemos em troca aquilo que queremos dar. Saiba que o amor sozinho é inútil, está fadado ao fracasso, está completamente interligado com a dor, o cansaço, a insatisfação e a decepção. Cerque-se do que importa. E o que importa não pode ser um rosto que um dia foi familiar, mas que agora não tem espaço na sua vida. Vá sempre em frente e descobrirá a oportunidade de dizer palavras de amor para quem quer ouvi-las. Elas renderam muitos frutos, serão férteis. Não porque você está com sementes novas, mas sim porque você estará semeando em terreno fértil.

Bibica a dit…

Pequeno gafanhoto, finalmente consegui parar um pouco e ler de verdade seu novo blogus-pocus. Como não consigo me abster de comentários formais, queria dizer que 1-) está visualmente muito, muito bacana e 2-) seu jeito de escrever está me agradando mais do que NUNCA. Foi até bom ficar um tempo sem receber textos seus porque deu pra perceber o pulo do gato a olhos nus. Você sempre teve muitas boas idéias - daquelas que as mal-lidas como eu (pero mal-comidas, jamás! hahaha) invejam com certa preguiça -, coisa de um universo criativo, coeso e muito seu. Rolava só uma prolixidade meio medieval (no sentido ignorante e pré-graduado da palavra que é o meu, claro). Agora eu tô vendo seu estilo totalmente limpo, definido, com sua carinha. Os traços do menino que sonhava escrever livros continuam aí, românticos e duros, mas agora eles têm os pontos finais, o ritmo e as palavras bem escolhidas de um escritor profissa, pronto pra fazer a primeira grande obra da vida. É assim nos textos longos sobre um botão de envio e a decepção amorosa antecipada, mas é também nos pequenos posts sobre Balzac e sua costureirinha. Bonitos, espertos, nostálgicos e ainda - e sempre - muito seus.

De resto, pau no cu da putinha. Hahaha! NÃO ME BATE!!! EU TE AMO!!!