mardi 15 janvier 2008

Tenho ainda um trabalho a devolver, para o qual ja escrevi cinco paginas. Falta inspiração e vontade para mais cinco.
Odeio dias que choram.

vendredi 11 janvier 2008

Nuit Blanche

Mais uma noite em claro...
Por volta das duas, não vale mais a pena tomar comprimido. Não quando se deve acordar às sete. Não quando se sabe que faltar no seminario significa perder o semestre.
Enquanto a noite vai passando, a televisão cospe seus programas sem graça, os livros se tornam perigosos e queremos sacudir o mundo para ver cairem os prédios.
Quando a angustia atinge seu apice, por volta das cinco e meia, parimos textos febris. Depois, o cansaço. Levantamos os olhos da folha ou da tela, e vemos la fora a vida que começa a renascer.
A verdadeira felicidade é um sono sem sonhos.

Everlong

"And I wonder
When I sing along with you
If everything could ever feel this real forever
If anything could ever be this good again

The only thing I'll ever ask of you
You've got to promise not to stop when I say when... "
Foo Fighters - Everlong

« Pois então diga… »
Foi o que ele ouviu antes de perder apoio no vazio do silêncio. De repente o mundo emudeceu. Não era o vento gelado que varria a imensa esplanada da biblioteca François Mitterrand. Não era o cinza-chumbo do céu nem os prédios imponentes que os cercavam como quatro monstruosos livros abertos em suas paginas de concreto e vidro. Era ela.
E mais nada.
Não saberia dizer como chegara até ali, nem por que entrelaçamento das malhas de decisões e destinos ela estava la, parada na sua frente.
O sangue subiu-lhe à face. Ele precisava falar, queria falar, mas a barreira de repente se tornara grande demais. Desaparecidas as grades de toda eloquência, as palavras hesitavam diante da liberdade. Era tão mais facil ter que se domar e viver com a doce frustração do segredo, as pequenas esperanças e minúsculas vitórias do querer, do ver e não tocar...
E de repente, por algum motivo que naquele momento lhe escapava, a fronteira havia sido cruzada. Naquele momento as lembranças desfizeram a malha dos dias passados amontoados no ângulo morto da vida para rever todas as pequenas coisas que fizeram-nos convergir para aquele instante que dissolvera o mundo. Ali estava ela, olhando-o, esperando.
“Pois então diga...”
Tentou, em vão, ler algo no seu rosto. Os profundos olhos castanhos efervesciam e, atrás das pequenas constelações que ele às vezes contava, reluzia no escuro a inteligência como uma navalha, pronta a ser desdobrada. Sem sorrir, sem nervosismo, com a neutralidade dos que têm a segurança de saber quem são, ela esperava suas palavras. Ele queria rir, contar uma piada ou falar do tempo, mas era tarde demais. Pedira toda a sua atenção, e seu desejo havia sido atendido. Não havia para onde correr.
De repente, o chão sob seus pés.
O Vento.
A Vida.
Precisava falar. Que se explodam as conseqüências.
“Não tenho por onde começar, nem por onde terminar. Estou ainda perdido em um mundo que não conheço, fora por alguns pequenos, insignificantes detalhes.
Se te pedi para vir até aqui, foi para te dizer que gosto desse mundo que descobri. Que gosto de me perder nele, e que à medida que comecei a conhecê-lo, a cada dia desenterro um novo tesouro, vejo novos horizontes de uma beleza inesperada.
Se te pedi para vir até aqui, é porque quero morar em um canto da sua tristeza para saber se, um dia, você me abrirá uma porta para a felicidade... porque prefiro partilhar o peso da sua vida a mastigar o vazio da minha.
Acredite: faz ja algum tempo que minha consciência é grande demais apenas para mim. Não quero que você cure minha vida... apenas estar nela e, se quiser, me deixar entrar um pouco na sua. Mas você é a estrela cadente e eu, um mero caçador de borboletas.
Mesmo assim, não consigo deixar de sonhar.
Esse mundo tem realidade demais, e sei que ela esta contra mim.
Mas se te chamei até aqui, se tive coragem de falar até agora, é para te dizer apenas isso:
Te quero para um sonho. A realidade que apareça quando puder”.
Deixou o vento levar para longe as ultimas palavras, enfiou a mão no bolso à procura de um cigarro que acendeu e deixou queimando no canto da boca, baixou a venda sobre os olhos e atou os punhos atrás das costas. Tragou longamente, esperando a ordem de “fogo”, e soltou a fumaça.
Que subiu
Como um anjo no céu de Paris.

vendredi 4 janvier 2008

A Resposta

Chegou inesperada, é verdade. Ou talvez não: como parte do mundo de compromissos insignificantes, era apenas uma devoluçao educade de um cumprimento.
Ainda assim, ele engasgou ao vê-la brilhar na tela, ali mesmo onde, alguns dias mais cedo, havia destilado o que lhe restava de estrelas cadentes para condensar uma frase simples. "What goes around, comes around"... ditado incontestavel para a raiva e a vingança, mas nunca para o amor.
Sim: amor. Porque era isso, e não outra coisa. Ele não ousava se repetir a breve e magica palavra. Quais eram, afinal, as garantias? Que tipo de amor, que grau de gostar traduzia seu sentimento? Como ousar afirmar estar amando do alto de seus relativos poucos anos e na época em que vivia?
Não: outra coisa. Algo mais, um engano, uma miragem cruel. Amar é mais dificil que isso. é mais que uma imagem, mais que uma brisa empurrando os passos um apos o outro rumo a Ela. Amar é muito, mas não esse estranho estar que enchia de suspiros o ar parado do quarto: Amar não é suspirar:
" é estar distraido."... talvez,
"é morrer cada dia um pouco", diria outro.
Além das verdades de outrém, abaixo dos dogmas sussurrados pelos grandes, ele sentia naquele fim de noite seu proprio veredito se condensar em uma pequena frase anodina, brilhante, singela, indiferente:

"obrigada pelos seus belos votos de ano novo, os quais eu retorno: que você tenha um 2008 cheio de pequenas e grandes alegrias"

Lendo e relendo, ele confirmava suas perguntas, desestabilizava suas respostas. Seu olhar se embaralhava em um redemoinho de desejos e murmurios, musica de madrugada, como as gotas de chuva iluminadas por uma fraçao de segundo no facho de luz da luminaria.
E como a chuva silenciosa que banhava a madrugada parisiense, ele se deixou cair, lentamente, na ilha flutuante dos apaixonados que fogem o dia, sonhando em um pedaço de nada, como haveria de ser a sua escolha no espectro infinito de tudo o que declina o amor.
Amar é criar. Pouco importa o real.

mercredi 2 janvier 2008

A Mensagem.

"So para te desejar um feliz ano novo e um 2008 polvilhado de sorrisos..."

Ele hesitava. Apertar "envio" e se abaixar, esperar, ousar dar mais esse passo de formiga, outro dos infinitos passos infinitesimais que devemos vencer sempre que, por alguma razão que nos escapa, decidimos correr atras de um sonho e avançamos por esses caminhos de vitorias quânticas que apenas nos enxergamos.
"Envio".
Foi. Foi pra conta. Paralelamente, havia o perigo de "foi pro saco" que decorreria fatalmente de uma resposta "vai à merda". Mas era assim. Ele não era mais uma criança, tinha passado por isso muitas vezes antes e sabia que, entre o extremos da rejeição violenta e da confissão apaixonada, as grandes probabilidades se concentravam no centro da gentileza indiferente. Era a rotina conhecida: "Apaixona-te, e correras por nada. Fica no teu canto, e o inesperado cai no colo". Era cruel, mas real. Ailas, que realidade não era cruel? Desde sempre, todos os elementos que compunham a vida haviam sido apresentados como provações terrives, ilustradas por exemplos heroicos de abnegação dos que triunfam: Aqueles que estudaram loucamente e passaram concursos reputados, o trabalho e a recompensa da dedicação total... de repente a vida se tornara uma seqüência de problemas a serem resolvidos que terminaria apenas com a morte, solução final para tudo. Pelo menos para ele. Caberia aos que ficam a responsabilidade de carregar a tocha para frente, continuar a corrente humana que se estende entre os séculos.
Fixando a tela onde piscava "mensagem enviada", ele se perguntava pela milésima vez se deveria mesmo ter quebrado seu silêncio. Não que a mensagem em si fosse uma declaração louca de amor incondicional. Para quaisquer olhos outros que os seus aquele recado de ano novo seria inocente, com sua poesia barata e gratuita. Um pouco desajeitado, um pouco ridiculo... uma imagem em linhas de quem o havia escrito. Seus temores não se concentravam no conteudo, mas em todo o processo, na imaginação que compôs as frases, nos dedos que saltaram de uma tecla a outra para coloca-la na tela, e no toque final que a enviara. Ele sabia que todas essas pequenas etapas eram grãos de vento formando um sopro implacavel que o empurraria até a desilusão final, o fim do sonho.
Por que aceitara correr esse risco, o risco quase certo de receber de fora a certeza de que nenhuma quimera poderia tocar o real, que o mundo seria amanhã como é hoje e como foi ontem, afogado na mesma solidão do mar de rostos indiferentes, da beleza sem amor, do interesse sem amizade?
Maldizendo sua incapacidade de se contentar do sonho, de sorrir para as bolhas de sabão que sua alma soprava nos momentos de tristeza, ele saiu da frente da tela:
Era triste demais.

Balzac e a costureirinha Chinesa

Comprei três exemplares na minha vida: os dois primeiros em inglês, no Brasil, para presente. Todavia ontem foi a gota d'agua. Fui até "l'Arbre à Lettres", uma das minhas livraris preferidas onde trabalha a Céline, uma amiga. Cinco euros, e la fui eu de sacolinha a tira-colo. Acabei o livro hoje de manhã e recomendo vivamente.