dimanche 12 juin 2011

Folhas secas

Da janela do meu quarto posso ver o quintal do vizinho. As vezes me debruço contra as grades para olhar o que um dia foi um jardim dominado por uma grande mangueira e hoje mais parece os restos de uma casa abandonada. Onde antes havia grama, hoje se vê apenas folhas secas e entulho cobrindo o solo. Não fosse o verde da arvore poder-se-ia acreditar que tudo esta morto naquele retângulo de terra. Mas ali algo se mexe, e não sei o que é.
Aconteceu ja na primeira semana que passei aqui, e vem se repetindo desde então. Sempre à noite, sempre depois das dez. Quando a insônia leva o descanso para longe, abro a janela para fumar um cigarro e ouvir o silêncio na esperança de sentir o mundo um pouco melhor. De repente um ruido de algo se arrastando pelas folhas secas chega da janela. Pensei ser um gato, mas nenhum felino que se preze faz tanto barulho ao caminhar. Deve ser algo maior e mais pesado, mas se o vizinho tivesse algum animal, não deveria ter visto ou ouvido algo nas horas mais claras, em outros momentos do dia?
Hoje aconteceu de novo. Tentei ignorar, mas o ruido foi muito grande e me fez debruçar na janela. Olhei na direção do quintal que a noite havia transformado em um poço de negrume aveludado, que a copa da mangueira protege como um escudo morbido. O barulho diminuiu instantâneamente, depois parou. Fixei a escuridão com a estranha sensação de que ela me devolvia o olhar. Quando me afastei da janela, o ruido retomou por alguns segundos antes de parar de vez.
Penso em um dia pegar uma lanterna para resolver o mistério. Me pergunto o que o feixe luminoso vai revelar.