lundi 25 février 2008

Studio et Morior

Saindo de cara para a Place de la Sorbonne, vire à direita. Desça a rua Victor Cousin até a praça Paul Painlevé. Passe pelo pequeno jardim, se quiser. Pare na frente de Montaigne para uma conversa de frio e bronze filosofico, mas continue seguindo.
Pegue a tortuosa rue de la Harpe, drible os paralelepipedos irregulares e os cheiros de queijos e churrasco grego. Pegue a rue de la Huchette, siga até o fim e você desembocara na rue de la Bûcherie. Numero 37.
Pronto.
A porta se fecha sobre o mundo. E te cospe no espectro dos universos à espera.
Todos os dias.
Sempre que posso e até fechar, fico la.
No andar de cima, cadeiras e colchões me esperam, felizem em me ver. Todos meus amigos me olham das estantes.
Companheiros de copo,
Colegas de choro,
Amigos de estrelas que dividem comigo a silueta da Notre-Dame recortada na janela.
Charlotte Higgins me fala de amor em latim, Terry Pratchett solta seus rolos de fumaça sorrindo por antecipação das piadas que vamos dividir. Will Shakespeare é grande, estatelado por todos os cômodos, o rosto dividido entre riso e chôro. Em algum lugar Michael Crichton conta suas historias incriveis, mas Tolstoi so pensa em ir embora, fugir, criança crescida.
Converso com cada um, nunca tanto quanto gostaria. Me apaixono, fico de mal, rio e abraço.
Quando a necessidade chama, abro a mala e o sotaque medieval de Jean de Meun se destaca entre os demais.
De repente, é hora de fechar. Vou embora, me perguntando sobre as sombras que às vezes passavam entre meus amigos e eu. Parecia que falavam algo,
Como se houvesse mundo fora do papel.
Coisa estranha...

mercredi 20 février 2008

Paris, Paris...à vélo.

Paris tem o Vélib'. Para quem não sabe, é um sistema de bicicletas publicas que ficam ancoradas em pirulitos eletrônicos. Quem quer usa-las pode fazer uma assinatura anual ou pegar um ticket de um dia ou uma semana. é bom, barato e tira a gente dos buracos fedorentos do metrô parisiense.
A Fada, ciclista assumida e militante, afirma que o vélibista (nome que encontrou para os usuarios do vélib') não passa de um usuario do metrô que de vez em quando resolve pedalar um pouco para aproveitar do sol. Perdi a conta dos cafés que banharam nossas discussões acaloradas que vão buscar as raizes da cultura francesa onde dois individuos que partilham o prazer da bicicleta preferem quebrar o pau vendo qual é mais ciclista ao invés de abraçar a cumplicidade das preferências comuns. Mas fazer o que?
Sou um velibista profissional e assumo plenamente. Quando voltei para Paris com o coração nos calcanhares decidi que andar de bicicleta ia me fazer bem, e fez. Perdi cinco quilos, ganhei fôlego e de quebra conheci belos cantos que so se pode descobrir perdendo-se.
O velibista "profissional" é aquele que renuncia definitivamente à inércia do metrô. Faça chuva ou faça sol, ele esta sobre sua bicicleta, enchendo o saco dos taxistas no corredor de ônibus, passando os farois vermelhos e ameaçando os pedestres babacas que têm essa estranha mania de atravessar na faixa!
O velibista apalpa a bicicleta antes de retira-la, sacode, pedala no vazio... Ele conhece todos os macetes para pegar uma que seja perfeita. Estamos atualmente tentando adaptar esse maravilhoso conhecimento preventivo à escolha de uma mulher, mas resultados recentes mostram que apalpar, sacudir e pedalar no vazio não funciona com o gênero feminino (pelo menos não no começo do primeiro encontro).
Melhor mesmo são os trajetos, mas desses falarei depois.

lundi 18 février 2008

Fée de moutarde

Chegou do nada, falando "oi"!
Em sua bicicleta preta envenenada de campainha e cesta de vime, ela desenha as ruas de Paris.
Quando de salto alto, tenho que olhar para cima para encontrar seus olhos. é melhor, pois tenho que passar pelo seu sorriso e o caminho se torna mais belo.
Quando em casa, ela escreve dos pães que faz e me conta dos seus pais em Dijon, de caminhadas na floresta e outras tantas alegrias.
Geniosa, ela discute até te convencer de seu ponto de vista ou o contrario... e sai emburrada. Mas isso ainda não vi.
De repente me conta de livros.
E some na multidão deixando um rastro de fagulhas e polen de mostarda.
Sobra um "dring dring" flutuando na esquina
E um pequeno sorriso no canto da minha boca.