vendredi 11 janvier 2008

Everlong

"And I wonder
When I sing along with you
If everything could ever feel this real forever
If anything could ever be this good again

The only thing I'll ever ask of you
You've got to promise not to stop when I say when... "
Foo Fighters - Everlong

« Pois então diga… »
Foi o que ele ouviu antes de perder apoio no vazio do silêncio. De repente o mundo emudeceu. Não era o vento gelado que varria a imensa esplanada da biblioteca François Mitterrand. Não era o cinza-chumbo do céu nem os prédios imponentes que os cercavam como quatro monstruosos livros abertos em suas paginas de concreto e vidro. Era ela.
E mais nada.
Não saberia dizer como chegara até ali, nem por que entrelaçamento das malhas de decisões e destinos ela estava la, parada na sua frente.
O sangue subiu-lhe à face. Ele precisava falar, queria falar, mas a barreira de repente se tornara grande demais. Desaparecidas as grades de toda eloquência, as palavras hesitavam diante da liberdade. Era tão mais facil ter que se domar e viver com a doce frustração do segredo, as pequenas esperanças e minúsculas vitórias do querer, do ver e não tocar...
E de repente, por algum motivo que naquele momento lhe escapava, a fronteira havia sido cruzada. Naquele momento as lembranças desfizeram a malha dos dias passados amontoados no ângulo morto da vida para rever todas as pequenas coisas que fizeram-nos convergir para aquele instante que dissolvera o mundo. Ali estava ela, olhando-o, esperando.
“Pois então diga...”
Tentou, em vão, ler algo no seu rosto. Os profundos olhos castanhos efervesciam e, atrás das pequenas constelações que ele às vezes contava, reluzia no escuro a inteligência como uma navalha, pronta a ser desdobrada. Sem sorrir, sem nervosismo, com a neutralidade dos que têm a segurança de saber quem são, ela esperava suas palavras. Ele queria rir, contar uma piada ou falar do tempo, mas era tarde demais. Pedira toda a sua atenção, e seu desejo havia sido atendido. Não havia para onde correr.
De repente, o chão sob seus pés.
O Vento.
A Vida.
Precisava falar. Que se explodam as conseqüências.
“Não tenho por onde começar, nem por onde terminar. Estou ainda perdido em um mundo que não conheço, fora por alguns pequenos, insignificantes detalhes.
Se te pedi para vir até aqui, foi para te dizer que gosto desse mundo que descobri. Que gosto de me perder nele, e que à medida que comecei a conhecê-lo, a cada dia desenterro um novo tesouro, vejo novos horizontes de uma beleza inesperada.
Se te pedi para vir até aqui, é porque quero morar em um canto da sua tristeza para saber se, um dia, você me abrirá uma porta para a felicidade... porque prefiro partilhar o peso da sua vida a mastigar o vazio da minha.
Acredite: faz ja algum tempo que minha consciência é grande demais apenas para mim. Não quero que você cure minha vida... apenas estar nela e, se quiser, me deixar entrar um pouco na sua. Mas você é a estrela cadente e eu, um mero caçador de borboletas.
Mesmo assim, não consigo deixar de sonhar.
Esse mundo tem realidade demais, e sei que ela esta contra mim.
Mas se te chamei até aqui, se tive coragem de falar até agora, é para te dizer apenas isso:
Te quero para um sonho. A realidade que apareça quando puder”.
Deixou o vento levar para longe as ultimas palavras, enfiou a mão no bolso à procura de um cigarro que acendeu e deixou queimando no canto da boca, baixou a venda sobre os olhos e atou os punhos atrás das costas. Tragou longamente, esperando a ordem de “fogo”, e soltou a fumaça.
Que subiu
Como um anjo no céu de Paris.

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