vendredi 14 décembre 2007

L'émail Parisien

é o companheiro constante de todos que aqui vivem. As ruas de Paris podem estar desertas, ele te observa. Esteja você sozinho em sua casa, ele te espia pela janela e adere à pele logo no primeiro passo do lado de fora.
"Boa educação", "respeito pelo espaço dos outros", "privacidade" e tantos outros nomes que ele veste, segundo a situação, não escondem sua verdadeira identidade: defesa.
No Brasil não conhecemos muito bem esse conceito - pelo menos não da maneira como é aplicado aqui. Trancamos nossas portas e instalamos sistemas incriveis para nos protegermos da violência, mas todas as barreiras cedem para os amigos.
E como temos amigos no Brasil.
Existe la uma certa predisposição de abordar o outro. Brincamos, contamos piadas às vezes para pessoas que nunca vimos antes de parar naquela fila de banco, no bar da padaria, na fila do banheiro. Temos uma necessidade crônica de conversar, e o fazemos como bons filhos do Novo Mundo: sem tabus. Ou melhor: tabus existem, como existe o preconceito e o julgamento do proximo, mas eles não são nada comparados ao que se encontra aqui. A conversa vem naturalmente, passa em pouco tempo por varias etapas de familiaridade e toma a forma usual. Em cinco minutos, é como se a amizade viesse de tempos atras.
Na terra dos froggies, isso é visto com recuo. Alguns acham maravilhoso, outros vêem uma certa promiscuidade, mas todos estão de acordo em um ponto: não se deve nem pensar em agir dessa maneira por aqui.
Se no Brasil as distâncias são grandes para melhor podermos vencê-las (e para que o churrasco de um não interfira com a festa do outro), em Paris todos vivem amontoados para melhor se ignorar.
Faz parte do decôro: Indiferença para o desconhecido na rua, distância para os conhecidos, jantares marcados com antecedência para os amigos. O francês do século XXI criou raizes na sua solidão. Eles negam esse comportamento, é claro. "é coisa de parisiense, dizem, no resto da frança não é assim". O argumento seria valido se o pais inteiro não tentasse com tanta aplicação imitar a maneira de ser da capital.
Com o tempo, o "respeito do outro" se tornou uma paranoia. Não diria um "medo do outro" no sentido fisico, como quando olhamos aterrorizados para o cara sentado do outro lado do ônibus, nos perguntando se ele vai so nos assaltar ou vai matar também. Seria mais um medo moral, o receio de ser julgado, de receber um tapa verbal que, na terra do camembert, é um dos poucos produtos ainda distribuidos de graça.
Assim, depois de algum tempo sendo habitado por essa mentalidade, o francês definiu o dilema nacional: vive-se encarcerado dentro de si mesmo, remoendo tristezas e pensamentos amargos, secretamente desejando que uma mão amiga seja estendida. Todavia, no mundo exterior o esmalte do bom comportamento enrijece a casca; e as calçadas são invadidas por ilhas de depressão ambulantes que bombardeiam com todo seu desprezo qualquer sinal de vida vindo de além mar. Claro, existem os sorrisos, os "pardon, merci, bonsoir, bonjour"... mas que o viajante ou peregrino não espere um dialogo muito além.
E existem as pérolas raras...
... mas disso falarei outro dia.

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