samedi 29 décembre 2007

Poucas coisas me angustiam mais do que uma tela branca e o tempo assombrando em um vazio fantasmagorico que se estende noite adentro. Ele se esfacela, cai em flocos opacos que enchem o quarto e se condensa em um novo solido que imobiliza, sufoca e afoga.
E assim... fazer o que?
O pior dessas horas é olhar para a estante e perceber que ja leu todos os livros da série discworld... Terry Pratchett deveria escrever mais rapido.

Humor Francês

Eles nem sempre acertam, mas quando mandam, mandam bem.
O video anexado a esse post é parte de um programa transmitido todo sabado à noite, "Groland", onde um grupo de humoristas resolveu criar... bem, o Groland, uma Pincipalidade (sim, é estranho mesmo), ou seja: um pais que tem fronteiras com todos os outros paises do mundo e é dirigido pelo presidente-prefeito que é reeleito todos os cinco anos, quase sempre a 100% (é ele que vota para si mesmo). Humor negro e meio doentio, exacerbação de todos os preconceitos que se encontra nas nossas maravilhosas sociedades, eles são excelentes.

Vai aqui o documentario sobre uma versão Grolandesa da "Paixão de Cristo" que tem como objetivo acabar com o mito cristão que mostra os judeus como "deicidas". Aproveitem!

http://www.youtube.com/watch?v=LTtWvazuKCE

Para entende bem francês e quiser saber mais sobre o Groland, segue o site oficial da Principalidade no Net:

http://www.wanagro.com/le-groland.htm

Natal passou... hou hou hou...

Atendendo a um pedido
De uma voz no eco da boemia,
Uns escritos de hora tardia
De um louco desconhecido:

"Sur les mains du barman,
Où dansent les verres,
Où coule la nuit,
Où chante la glace
Et s'éveille la bohémie,

Je viens chercher
Les réticences de mes pertes,
Mon oubli douloureux
Qui suit un regard
Au tournant du comptoir"

Ou ainda...

"Capacité associative: quel est le mandat?
Les roses passent, de toute façon.
Le bois est vide
Comme moi.
Faut-il aller chercher ailleurs?
Ailleurs, où les couleurs se déchaînent,
Où le monde me mord
Dans la chair
Jusqu'au sang?

Ailleurs...
Où ma voix peut passer le mur
Des dents?"

mercredi 19 décembre 2007

Newsletter

Seis e meia da manhã... "deux ajuda quem cedo madruga", e acordei ha mais ou menos uma hora. Tem do que fazer inveja a qualquer padeiro.
No menu de hoje: computador, computador e mais computador. Tenho que devolver quinze mil trabalhos depois das férias e comecei apenas alguns.
Em Paris faz um frio do cão: entre zero e três graus durante o dia, temperaturas negativas à noite. Não da vontade de sair de casa, nem mesmo para um café. De qualquer maneira, ele ficaria quente apenas três segundos depois de ser servido. Bof. Estou de saco cheio do inverno. Amanhece por volta das oito e meia, escurece às cinco... é como se não sobrasse tempo para o dia no meio de tanta noite.

dimanche 16 décembre 2007

Pra não dizer que não falei de flores...

Ah, sim... como so tenho colocado posts sombrios ou do tipo que ninguém agüenta ler até o final, vou fazer aqui uma pequena homenagem a duas moças que passaram uma semana em Paris antes de embarcar de volta para a Terra Mater e agitaram a vida dos "otakus" da Rue Bréguet: Thais e Karina, valeu mesmo! Foi otimo ter vocês por aqui!

E para completar, algumas fotos... porque é disso que o povo gosta!

De cima para baixo, da esquerda pra direita: Fred, Damien e eu mesmo: habemus vinum!

Thais (baixinha), Karina (desenvolveu a técnica secreta da volta arrastada pelo corredor) e jo, na frente da Notre Dame.

Tout le monde bouffe! (reparem no saco plastico do lado de fora da janela: era onde o Damien guardava os queijos trazidos de Tours: unica maneira de não asfixiar todo mundo no apartamento!)

"Otaku"

Quinze pras seis da manhã. é aquela hora em que não se pode mais nada pelo sono. Pronto: mais uma noite em claro.
Não me arrependo; pelo menos dessa vez fui produtivo. Li novamente alguns trechos de referência, esclareci duvidas e adiantei um pouco os trabalhos da faculdade. Cansei de tomar cha, esperando o momento em que o sono venceria... mas a consciência ganhou por W. O. Fazer o que?
La fora, tudo quieto. Até na Bastilha tem horas em que todos dormem.
Penso nessa estranha e tardia fase de transição que estou atravessando. A vida "adulta" chega, finalmente. Não sinto mais vontade de jogar RPG, passo meus dias com a cabeça no mestrado, na familia, na vida... de vez em quando rabisco umas linhas. Me pergunto se havera alguma coisa a descobrir nesse status inédito para mim de adulto.
E ja não era sem tempo: 27 anos, quand même... Mesmo assim, sinto falta das noites bem dormidas, dos poemas às duas da manhã, daquela sensação de que tantas coisas ainda estão ocultas. Mas, sobretudo, lamento a perda dos antigos interesses.
Perda? Não sei: talvez tenha me tornado mais seletivo, isso sim. Os mangas, por exemplo: houve uma época em que todos os titulos eram novidades, eu lia o que caia na minha mão. Agora passeio pelas estantes das livrarias, folheio um ou outro e me canso de encontrar a mesma estrutura, sempre aquela historia chata de super-heroi. (odeio super-herois, e se tivesse kriptonita o suficiente faria um par de botas so para chutar o saco do super-homem...). Enfim, divagações aparte, encontrei algo interessante: "O Rapaz do Trem". Primeira mudança drastica em comparação aos demais mangas: temos um cenarista e um desenhista. Normalmente é sempre o mesmo cara que faz tudo. Os desenhos de Daisuke Douke são bons, mas nada de excepcional. Para quem lê esses quadrinhos japoneses, os traços delicados e as expressões comovidas são moeda corrente. O cenario em compensação é uma pérola que nos traz Hitori Nakano. Baseado, segundo ele, em um fato real, eles contam a historia do Rapaz do Trem, um "otaku" (termo que define um solteiro sem esperança, que nunca esteve com uma mulher antes) de 22 anos que se opõe a um bêbado quando este ameaçava uma garota no metrô. Ela agradece e, como é costume na terra do Sol Nascente, pede o endereço dele para mandar um presente de agradecimento. A partir dai tudo se desenvolve.
O gende lance da historia é que o "otaku" faz parte de um forum de discussões onde outros "otakus" choram suas respectivas magoas, e ele começa a contar sua historia ao mesmo tempo que a vive. Todos passam a opinar e aconselhar o cara, que aos poucos vence a barreira da dimidez e descobre o que é sair com uma garota, jeva-la para jantar, etc., etc..
Fora minha fascinação pelo tema da timidez e a exploração a fundo de todo esse universo que é o momento do inamoramento (uso ilegitimo de um termo que descreve uma etapa no protocolo do amor cortês do ocidente medieval, porque afinal de contas no Japão é completamente diferente), achei muito interessante o uso da internet como uma ferramenta que aproxima as pessoas e cria um tipo muito expecial de união, isso numa época em que cada vez mais encontramos um tipo de rancor ligado à informatica.
Enfim, fica aqui uma dica de leitura para quem gosta do gênero...

samedi 15 décembre 2007

De frio, sono e sorriso

A noite caiu cedo, como sempre no inverno. Os vidros opacos das janelas da bilioteca não permitiam ver as calçadas molhadas, os pedestres e os carros, rio de luz e sombra escorrendo entre as pedras haussmanianas dos prédios de Paris. Mas ele sabia.
Sabia que, la fora, o Panthéon dominava a colina Sainte Geneuviève com sua silueta imponente, varrida de quando em quando pelo facho da torre Eiffel. O mundo girava, mas naquela caverna de livros que o tempo parecia esquecer as luzes jogavam cores ternas sobre as interminaveis estantes. Mundos e mundos fechados, alinhados, silenciosos, observavam-no.
E ela.
Ali.
Do outro lado da mesa.
Alguém falava. Ele franzia o cenho, prestando atenção a cada palavra, agarrando as silabas, registrando-as, compreendendo, preenchendo lacunas. Pesquisa, conhecimento, conteudo... ele sabia que estava longe do saber de que precisaria se quisesse alcançar o mesmo patamar que os demais rostos ao redor. Mesmo assim, queria correr atras, saltar as barreiras, saber mais, saber mais.
E ela...
Ele arriscava de vez em quando um olhar furtivo que, quando a sorte lhe sorria, não ricocheteava nos mundos das estantes, mas atravessava o espaço e partia rumo à imensidão universal no fundo dos olhos dela. Cada relance feliz era uma sonda solitaria que se perdia nas constelações daqueles olhos estrelados. Aos poucos ele balbuciava, tentando mapear o céu que lentamente descobria, saboreando os momentos um a um, pequenas vitorias so dele.
A reunião acabou mais tarde que prevista. Ele guardou as folhas e jogou a pesada mochila nas costas, sentindo as alças morderem seus ombros. Foi falar com ela, uma ultima palavra antes de partir:
- A senhora se incomodaria se eu lhe escrevesse pedindo algumas explicações sobre o trabalho?
- Primeiro, disse ela, me chame de você. (em francês, é a permissão para "tutoyer", ou seja, falar com o outro usando o pronome familiar "tu" ao invés do formal "vous") Depois, claro que pode escrever. Espero seu mail!
Pela primeira vez ele falou com ela daquela maneira. "Tu", "tu", "tu". De repente ela estava la, sem uma mesa entre eles. Apenas ela, inspiradamente ela. Ela-você, ela-ele, ela-eu-e-você.
Podia não ser nada.
Podia ser tudo.
E ele queria ver nisso o começo de uma odisséia.
Se separaram com um sorriso, cada qual no seu caminho, Quimera e Sonhador se embrenhando no frio escuro da noite.
Pela primeira vez ele dormiu. Sonhou com uma mão entre as suas.
Que pouco a pouco se fechou, suave, sobre seus dedos.
Depois de tanto tempo, acordou feliz.